Índice de insumos para a produção de leite cru em Goiás – ILC

O mercado de leite é um mercado dos mais complexos de todo o segmento agropecuário, pois envolve vários aspectos que o influenciam. Apesar de possuir vários elos, o setor lácteo é constituído por dois, que são os principais elos dessa cadeia, o elo dos produtores e o elo das indústrias de laticínios. Essa cadeia é caracterizada por uma estrutura, onde tem-se de um lado, milhares de produtores de leite que, na sua maioria, são pequenos produtores rurais, espalhados por todo o Estado, com pouca ou nenhuma capacidade de negociação. E por outro, o elo das indústrias de laticínios, mais concentrada e formada por poucos compradores e com uma capacidade maior de negociação.

O principal problema que hoje afeta essa cadeia, em específico, a relação produtor/indústria, é a falta de previsibilidade do preço e o pagamento justo pelo preço do leite que será pago aos produtores, tendo em vista todas as especificidades desse mercado. Atualmente, os produtores só tomam conhecimento do preço que receberão pelo produto no mês seguinte a sua entrega. Além disso, há ainda, entre os produtores, a percepção de que a indústria poderia pagar um preço mais justo pelo produto que produzem e comercializam.

Nesse sentido, em agosto/2019, foi criada a Câmara Técnica de Conciliação da Cadeia Láctea, Câmara está mediada pela Secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás – SEAPA. Foi formada por representantes dos produtores de leite e das indústrias de laticínios, cujo objetivo é discutir soluções para os crescentes conflitos no setor e dar maior transparência entre os membros desses elos da cadeia produtiva.

O primeiro trabalho desencadeado pela Câmara, foi discutir e estudar um meio (instrumento) para solucionar a principal questão que é a previsibilidade do preço do leite a ser pago aos produtores. Foi, então, que criou-se em novembro/2019 o Índice da Cesta de Derivados Lácteos, objetivando fornecer uma sinalização, por parte da indústria, dos possíveis cenários para o preço do leite no mês seguinte ao da comercialização do leite realizado pelos produtores, visando a programação e o planejamento dos custos e investimentos nas propriedades rurais.

Esse índice, que é calculado pelo Instituto Mauro Borges – IMB, é discutido e validado nas reuniões mensais da Câmara e divulgados em um boletim mensal de mercado lácteo. O índice demonstra a variação média ponderada dos preços de uma cesta de derivados lácteos produzidos pela indústria de laticínios do Estado de Goiás, onde os pesos utilizados para essa ponderação, correspondem ao peso que cada derivado tem no mix de produção da indústria goiana. Foi composto pelo leite UHT Integral (com peso de 20%), leite em pó integral (com peso de 23%), queijo muçarela (com peso de 37%), leite condensado (com peso de 14%) e creme de leite a granel (com peso de 6%).

O propósito é de que a variação do índice apurado no mês, seria utilizado como referência para a correção dos preços do leite in natura, que serão pagos aos produtores rurais no mês posterior à reunião da Câmara. Cabe registrar, que o índice não representa um indexador que deve ser aplicado compulsoriamente pelas indústrias de laticínios, e sim deve servir como uma referência da variação dos preços no mercado.

O objetivo principal desse instrumento é garantir a transparência no mercado de leite in natura, entre produtores e indústrias de laticínios, servindo como um parâmetro de acompanhamento do mercado, como uma referência para o comportamento futuro do preço do leite a ser pago ao produtor rural. No entanto, devido à complexidade do mercado lácteo, tal fato não tem se concretizado, onde o índice, apesar de retratar as variações no comportamento do mercado lácteo goiano, não vem sendo utilizado como referência de previsibilidade de preços aos produtores rurais.

Além disso, há um outro aspecto extremamente importante, que não é objeto e não é retratado pelo Índice da Cesta de Derivados Lácteos, que se refere ao descompasso no mercado, entre o comportamento da variação dos preços dos produtos comercializados pelas indústrias de laticínios e dos preços recebidos pelos produtores em um período, com o comportamento da variação nos preços dos insumos que fazem parte dos custos de produção que os mesmos tem para produzir o leite neste mesmo período.

É tão, o mais importante, que o setor produtivo primário, também tenha informações acerca do comportamento da variação dos preços dos principais insumos que compõem o seu custo de produção, objetivando analisar e avaliar o seu impacto face à variação dos preços dos principais produtos lácteos que são comercializados no mercado.

Nesse sentido, é que se observa a necessidade de um outro instrumento/método, que possa fornecer outra sinalização importante aos produtores de leite. A dos possíveis cenários que os mesmos possam ter, em relação aos preços do leite que tem de receber, para fazer face ao impacto da variação dos preços dos insumos que compõem os seus custos de produção. Essa informação é extremamente importante para garantir a própria sobrevivência desse elo da cadeia, que muitas das vezes, recebe um preço que não cobrem os seus custos de produção. Esse novo instrumento objetiva, também, fornecer aos produtores de leite, informações para que possam trabalhar de forma mais assertiva, a programação e planejamento dos seus custos e investimentos, em detrimento aos preços que recebem. Também servirá de referência para auxiliar no processo de negociação de preços com as indústrias de laticínios para as quais comercializa o seu produto.

Para ler todo relatório acesse:: http://ifag.org.br/ilc/