Que clima teremos para o início da safra 21/22?

01 a 06 de setembro/2021

Um grupo de meteorologistas considera que é cada vez maior a probabilidade de o fenômeno La Niña retornar nesta primavera, que começa em 22 de setembro. Se confirmado, mais uma vez o fenômeno climático deve afetar as culturas na região Sul da América, como no RS e Argentina.

Os modelos de clima, especialmente o americano, em geral, mantêm o indicativo de resfriamento das águas superficiais do Pacífico Equatorial até o começo do próximo ano com alta probabilidade de o fenômeno se instalar agora durante a primavera, o que afetaria o clima no Brasil e no restante do mundo no final deste ano e ao menos nos primeiros meses de 2022.

Além do Brasil, a preocupação também é grande com a produção de grãos da Argentina. O maior risco por deficiência hídrica na próxima safra se dará no Sul do Brasil e na Argentina e podemos considerar um altíssimo risco de perda de produtividade e quebras de safra, especialmente do milho.

Segundo a última atualização da Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA), em 12 de agosto, a chance de La Niña na safra de verão é de 70%. A possibilidade de um novo La Niña levanta preocupações em todo o setor agrícola, sobretudo para a região Centro-Sul do Brasil, que desde o ano passado enfrenta com a seca prolongada e temperaturas acima do esperado pela climatologia. Essa alta probabilidade de La Niña seria entre novembro de janeiro/22.

Se analisarmos o atual momento, o Pacífico encontra-se em neutralidade, logo a condição do clima não é de normalidade. Lembramos que Neutralidade não é sinônimo de normalidade em se tratando dos efeitos do Oceano Pacífico no clima tanto regional como global. Secas e inundações como ondas de calor e frio ocorrem em diferentes partes do mundo.

O último levantamento de probabilidade divulgado pela Universidade de Columbia em parceria com a NOAA, a agência climática norte-americana, sinalizou justamente para o trimestre de primavera (outono no Hemisfério Norte) a maior chance de que retornem as condições de La Niña.

Nesse sentido, o levantamento com base em modelos climáticos indicou um aumento da probabilidade de La Niña. A última análise indicou para o trimestre de setembro a novembro 62% de probabilidade de La Niña e 37% de neutralidade. Para o trimestre outubro a dezembro, 67% de chance de La Niña e 32% de neutralidade. Já para o período de novembro a janeiro, 69% de La Niña e 29% para neutralidade.

E para o trimestre de verão de dezembro de 2021 a fevereiro de 2022, 64% de probabilidade de La Niña e 33% de neutralidade. Finalmente, para o trimestre de janeiro a março de 2022 os indicativos mais recentes são de 55% de La Niña e 41% de neutralidade. As probabilidades de El Niño deixam de ser citadas porque são irrisórias.

A tendência é de após uma rápida ocorrência de La Niña é da volta de uma situação de neutralidade climática.

Nos últimos dias tem se observado chuvas expressivas na região sul do país, levando umidade e tempo nublado à região Central do País, como mostram as imagens do Satélite Goes.

Para os próximos 7 dias, não há indicativos de chuvas consideráveis para GO e MT, e uma zona de umidade consegue chegar ao MS e causa pontos de chuvas isoladas em várias regiões, segunda mostra o modelo Cosmo do Inmet.

                No modelo de previsão de precipitação divulgados pelo COLA – Centro de Estudos Oceano-Terra-Atmosfera da Universidade George Mason nos EUA, mostram que entre 29 de agosto e 06 de setembro o tempo permanece seco em praticamente todo o Centro-Oeste e os indicativos de chuvas mais expressivas somente para a região amazônica e sul do Brasil. Já para os dias entre 06 e 14/set a condição climática muda, com previsões de ocorrência de chuvas na região central em volumes que variam de 5 a 35 mm.

                Isso seria muito animador para os produtores de grãos do Brasil Central, porém, a previsão até agora é que logo o tempo firme volta a ocorrer na região, logo essa chuva deve ser muito bem recebida, mas com cautela.

             Em dados compilados do Sistema de Distribuição do Arquivo de Modelos Operacionais da NOAA, o Serviço Meteorológico do Canadá, o Global Ocean Data Assimilation Experiment, Climate Prediction Center, European Center for Medium Range Weather Forecasts, Deutsche Wetterdienst e Japan Meteorological Agency, mostram chuvas chegando ao Brasil Central em setembro, especialmente a partir do dia 10, porém, com volumes ainda baixos (Sistema GFS). Na primeira semana do mês, apenas chuvas isoladas em alguns pontos estão previstas e a tendência é de frentes frias oriundas da região amazônica e do Sul formarem um corredor de umidade provocando a formação de nuvens carregadas, porém, ainda baixa amplitude no centro do Brasil.

             Na compilação dos mesmos dados, os mapas de precipitação acumulada com previsão para os próximos meses se configuram da seguinte forma:

             SET – possibilidade de ocorrência de chuvas isoladas no Centro-Oeste, porém, o tempo firme e temperaturas altas deve prevalecer. Chuvas devem ser abaixo da média climatológica durante o mês na maioria dos estados de GO e MS.

             OUT – ocorrência de volume acima da média pode chegar a 90 mm em boa parte de GO e leste do MT. O MS inteiro deve ter precipitações abaixo da média, bem como no sul de GO e sudoeste do MT. Oeste da BA também deve ser favorecido.

             NOV – as chuvas deverão se concentrar mais na porção norte de GO e MT. O MS ainda deverá sofrer com tempo mais seco e sem precipitações consideráveis. Porção sul de GO e MT devem sofrer com anomalias relacionados à ocorrência de precipitação.

             DEZ – região norte do MT e vale do Araguaia em GO devem receber altos volumes de precipitação podendo chegar a 200 mm acima da média. Sudoeste do MT e norte do MS devem sofrer com a falta de chuvas consideráveis.

             JAN – toda região Centro-Oeste deve receber bons volumes acumulados durante o mês, todos acima da média, favorecendo as culturas de verão. Não há ainda a previsão de veranicos durante o mês.

             FEV – no mês de fevereiro somente o norte do MT deve receber chuvas acima da média. A probabilidade de ocorrência de veranicos é grande no período e o volume de chuvas acumulado deve ser baixo nos três estados.

             Observa-se que entre Set/21 a Dez/21 a região sul, especialmente no PR e RS as precipitações devem ser abaixo da média e consequentemente prejudicar muito a safra de soja e milho na região.

             Obviamente as previsões no longo prazo tem uma assertividade menor, porém, os modelos climáticos estão cada vez mais precisos e podem dar um bom norte sobre o que deve ocorrer em termos de precipitação.

             Ao se confirmar essas previsões, o clima deve favorecer as culturas num primeiro momento, favorecendo o plantio no mês de outubro, porém, com complicação para 2ª safra a partir de fevereiro na região Centro-Oeste. Já para região Sul, as perspectivas são bem preocupantes para os produtores.

                No modelo elaborado pelo Instituto Nacional de Meteorologia do MAPA para os meses de setembro, outubro e novembro a situação se difere um pouco nas anomalias observadas.

De acordo com a previsão válida para setembro/21 as chuvas devem ser abaixo da média em praticamente todo o Centro-Oeste, com exceção do sul do MS. Haverá ocorrências apenas de chuvas isoladas em alguns pontos. No Sul as chuvas devem favorecer o plantio com volumes entre a normalidade e acima da média.

Para outubro/21 a previsão é também chuvas abaixo do normal para GO e MT. O MS dever ter chuvas dentro ou um pouco acima da normalidade e a região Sul deve ter problemas em algumas regiões com chuvas abaixo da média.

Para novembro/21 as chuvas devem ser acima do normal em boa parte de GO e MT. No MS a situação se reverte e as chuvas devem ser mais escassas. Em GO a região do extremo sul deve receber um menor volume de chuvas e os produtores do sul deve ter problemas com baixo nível de umidade do solo com ocorrência de chuvas abaixo da média pelo segundo mês consecutivo.

                Em resumo, os produtores da região Centro-Oeste devem ser mais cautelosos e aguardar o mês de outubro onde as chuvas devem ser mais regulares para efetuar o plantio. Já os produtores do Sul deverão ter problemas com chuvas abaixo da média climatológica.

O La Niña mais afundo

Na Argentina, por exemplo, os impactos negativos sobre a produção de grãos, especialmente soja e milho, já são dados como certos por conta do fenômeno. Prova disso é que a Bolsa de Grãos de Rosario prevê reduções de chuvas de até 30% durante a próxima safra.

Soma-se a isso a redução entre 18% e 25% da capacidade de carga por navio devido ao baixo nível histórico do rio Paraná, o que pode interferir nas exportações do grão e do farelo, subproduto do qual o nosso país vizinho é líder mundial.

                Já por aqui, existe risco maior de a estiagem impactar fortemente determinadas áreas, com destaque à região Sul. Ao que tudo indica esse fenômeno prossegue até meados do próximo verão (dez/22) e os seus efeitos devem ser sentidos pelo menos até o início do próximo outono (mar/22). Já estamos com características dele, embora o fenômeno ainda não tenha oficialmente começado, mas a temperatura do Pacífico ficou mais baixa do que o normal no último verão. Estamos agora sobre neutralidade, mas o Pacífico já está em processo de resfriamento.

O importante é pensar na questão da regularização, ou seja, quando é seguro dizer que a chuva é suficiente para o produtor instalar a safra. Com o La Niña, isso acontece mais tarde do que o desejável.

Assim, o ponto importante parte daí: as chuvas de 2021 chegarão atrasadas como no ano passado? Ao que tudo indica neste ano isso não deve acontecer. Há uma expectativa de chuvas já em setembro e de mais fortes no decorrer de outubro em boa parte do país, o que pode permitir uma instalação da lavoura mais rápida, diferentemente do que ocorreu em 2020.

As chuvas devem ser bem volumosas e em um curto espaço de tempo o que chama a atenção para algumas práticas interessantes que o produtor pode realizar como um bom manejo do solo e na melhora da capacidade de armazenamento de água. Também é importante propiciar movimentos ascendentes de água para suprir a demanda da planta e, onde for possível, escalonar essa semeadura, não plantando tudo na mesma data, pois, caso ocorra estiagem, nem toda a lavoura será afetada simultaneamente. Trabalhar com cultivares de ciclos diferentes também é uma ótima saída. Essas dicas valem para todos os estados, mas especialmente para os da região Sul, que certamente sofrerá mais com o La Niña.

O ciclo de produção da soja dita que o enchimento de grãos acontece em meados de dezembro em diante para os estados que começam a plantar no início de outubro, ou seja, logo após o término do vazio sanitário na maioria das localidades.

Já para os que costumam semear ainda mais cedo, em setembro, como é o caso de Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Goiás, por exemplo, o impacto do La Niña pode ser ainda mais forte. Nas últimas safras, a grande maioria das áreas vem plantando em final de setembro e início de outubro, ou seja, a fase de enchimento de grãos se dá em dezembro. Se houver um regime pluviométrico deficitário aliado a altas temperaturas, essa conjunção trará grandes impactos para a cultura da soja.

O La Niña está vinculado ao resfriamento das temperaturas médias oceânicas, ou seja, é o oposto do El Niño, que produz um aquecimento anormal das águas. Inicialmente, o La Niña faz com que as chuvas atrasem no país por dois motivos: porque as frentes frias avançam pela costa brasileira ao invés de pelo interior e, também, porque a chuva da Amazônia desperta mais tarde. Entretanto, isso não impede que chova forte em algumas áreas, como acontecerá ainda nesta semana em regiões do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

Normalmente, o La Niña aumenta a chance de estiagens durante o final da primavera e verão no Sul e na Argentina. Por outro lado, o que percebemos em anos de La Niña é que, justamente durante o verão e início de outono, chove de forma mais intensa sobre áreas do Norte, Nordeste e estados como Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso, ou seja, a chuva fica mais concentrada na metade norte do Brasil, enquanto a região Sul sofre mais com as estiagens.

CONTROVÉRSIAS

Ainda existe muitas controvérsias sobre os modelos climáticos adotados no mundo. Segundo a opinião de alguns climatologistas renomados, o que na verdade ocorre é um cálculo médio do somatório de vários modelos climáticos existentes no mundo, conferindo pouca confiabilidade nos resultados apresentados.

As águas do Atlântico Norte entre a América do Sul e a África estão mais quentes e isso favorece a formação de uma coluna de umidade oriunda da região Norte, logo as chuvas devem ocorrer já em setembro no Brasil, especialmente na região Centro-Oeste o que deve favorecer o plantio. Nota-se ainda que nas águas do Pacífico, as temperaturas estão menos quentes favorecendo uma situação de neutralidade.

Entre julho e setembro nota-se a ocorrência de chuvas na região Centro-Oeste e com bons volumes (acima da média) entre outubro e dezembro. A tendencia é de ocorrência de tempestades mais severas com granizo em algumas regiões. Serão chuvas mais volumosas em um pequeno espaço de tempo o que se tornará importante as práticas de conservação de solo para reter a umidade no perfil.

Entre janeiro e março os volumes deverão ser intensos em janeiro e fevereiro, começando a diminuir em março com chuvas abaixo da média no Matopiba, Centro-Oeste e região Amazônica.